23 de jun. de 2008

“Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior”



Hipnotizante. Essa é a palavra para descrever o show de lançamento do segundo álbum do Teatro Mágico, Segundo Ato, no Memorial da América Latina. O show é lindo, perfeito... eles amadureceram mesmo... e saíram do amadorismo para o profissional-amador. Tudo no show hipnotiza... quem vê nem pisca...

A trupe continua sem patrocínio, sem distribuidor, a favor da pirataria... mas percebe-se que eles cresceram... são adultos... nos arranjos, nas letras, no profissionalismo que cercou todo o show...

E que show! Os números circenses estão anos-luz melhores do que eram... os quatro artistas circenses fazem bonito mesmo... sem clichê! Mas o melhor, o hipnotizante, é a parte teatral... cada música tem uma produção teatral por trás... em Eu não sou Chico (mas quero tentar) a encenação de um boêmio tentando conquistar duas prostitutas, em um boteco com cara de Chico Buarque, ficou ótima!

Mas a melhor, a de chorar, de ficar embevecido é a encenação de Cidadão de Papelão... a idéia da música é mostrar a vida de quem não é nada, não tem nada... de quem “não habita, se habitua”. No palco, um homem vestido de jornal, sem rosto, sendo ignorado o tempo todo pelos músicos... quando deixa de ser ignorado, passa a ser maltratado, chutado, expulso... demais! Acontece todos os dias, a todo o momento, e nem nos damos conta.

Minha tristeza é que muitas músicas ficaram de fora... Eu não sei na verdade quem eu sou – minha preferida que não está em CD nenhum - , Durma medo meu, Bailarina e Soldado de Chumbo, Folia no Quarto, Na varanda, Sobra tanta falta, Cuida de mim, Perto de você.......

A ‘amadurecência’ da trupe, de Fernando Anitelli não está somente no palco, no CD, agora com um encarte lindo, inspirado em Salvador Dalí... está muito mais nas letras... acabaram-se o bucolismo, a esperança, a folia no quarto de criança, a busca pela pedra mais alta, a união de tudo numa coisa só... acabaram-se as cores suaves, o lilás, o verde, o laranja, o amarelo... tudo isso deu lugar ao protesto, ao vermelho e preto, às batidas fortes, ao som estridente da guitarra. Às revoltas!

O que me chamou a atenção quando conheci o Teatro Mágico, por meio do CD Entrada para raros, foram as músicas com esperança, amor, saudando a alegria, o prazer, a felicidade... adorei a suavidade, o pratododia, a sorte vindo num realejo, lembrando do amor só enquanto respirar... a paixão do mar por Ana... mas em São Paulo, no Brasil... neste mundão... ninguém pode ser feliz para sempre... nem mesmo a magia do Teatro...

Pena que naquela platéia faltou alguém... havia um lugar vazio na arquibancada... e por falar em pena...

O carro-chefe da trupe é a música Pena... vai aí a letra...



O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira

O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação
E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
A porcentagem e o verso
rifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
Meu museu em obras, obras em leilão
Atalhos, retalhos, sobras
A matemática da arte em papel de pão

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A luz acesa
Já se abre um sol em mim maior

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior

Ainda devo minha história de Brasília... aguardem! Ainda estou com saudade de Brasília... passaria um bom tempo lá...

2 comentários:

Pedro Guerra disse...

Deveria pensar em escrever criticas. beijos

Flávia Pregnolatto disse...

Ai Fran, lendo a sua descrição e escutando o cd dá até um aperto no coração de não ter ido.
O show deles realmente é incrivel, e agora no segundo ato deve estar melhor ainda.
Valeu mesmo pelo CD Fran, já estou viciada, não paro de escutar. :)
é lindo, lindo, lindo.