1 de jul. de 2008

Pai! Afasta de nós esse cálice...



Hoje faz um mês que o garoto Fabiano foi espancado na porta da danceteria Soft, em Sorocaba. Passou uma matéria no Jornal Nacional, com ele mesmo – um milagre! – dando um depoimento... não pude evitar e chorei... nunca mais esse garoto vai ser o mesmo... nunca mais...


Quando soube desse caso, soube pela boca de outros... não vi as cenas logo de cara e achei que se tratava de mais uma briga de balada... mas quando vi... e não consegui ver tudo, porque foi pesado demais para mim, meu coração ficou apertado, como tantos outros corações, imagino... mas depois uma revolta tão grande tomou conta de mim que tive ímpetos de tomar atitudes que nem tenho coragem de dizer.


Não consigo encontrar palavras na língua portuguesa para definir ISSO... é inclassificável...


Então nós vemos por aí ONGs em defesa dos animais, do meio ambiente, da floresta amazônica... e, veja bem, não sou contra a nada disso... mas quando vamos salvar a humanidade??? Quando vamos pensar na redenção do ser humano??? Porque não é possível que fiquemos de braços cruzados vendo pais jogando seus filhos pela janela, mães desesperadas perdendo seus filhos numa balada, como foi o caso do garoto baleado no Rio de Janeiro por um policial militar!!!!! SOCORRO!!!!


Do jeito que “caminha a humanidade” em breve vamos morar no inferno, bem ao lado do demônio... medo de sairmos de casa, medo de termos filhos, medo de andar pelas ruas... enclausurados num mundo próprio... sozinhos... vamos perder a capacidade de tocar, de relacionar... aos poucos vamos perder a fala... nossa única habilidade serão os dedos deslizando pelos teclados...

Estamos retrocedendo na evolução... breve seremos amebas novamente... com uma única célula...

Todas as violências dos últimos tempos estão me deixando em revolta interior... não pude evitar esse post... brotou junto com minhas lágrimas... quem é que vai dar paz para o coração dessas mães que estão perdendo seus filhos? Quem é que vai dar sabedoria para que esses pais parem de mimar os seus “filhinhos” de classe média-alta, transformando-os em adolescentes monstros? Quem é que vai mostrar aos nossos excelentíssimos governantes que nós não precisamos só de bolsa-família, precisamos de educação (descente!)... não só de educação, mas também de saúde (descente!)... não só de saúde, mas também de trabalho (descente!)... não só de trabalho, mas também de segurança! De lazer! De vida! De qualidade! Amor!

Seres humanos é o que somos... todos filhos de Deus... todos temos sangue nas veias... todos temos compaixão... não vamos deixar que Sorocaba esqueça o houve... assim como a mídia “martelou” (até demais!) o caso Isabella, e talvez graças ao trabalho até cansativo e cheio de clichês da imprensa, hoje os acusados estão presos, vamos “martelar” o caso de Fabiano... para que esses “inclassificáveis” nunca mais possam desfrutar de um minuto de liberdade sequer... é o mínimo... é pouco... é quase nada perto do que eles fizeram... mas pelo menos nos redime de nossa culpa...

Por enquanto, a luz no fim do túnel é uma utopia pra mim...


Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

De muito gorda
A porca já não anda
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo
Não seja pequeno
Nem seja a vida
Um fato consumado
Quero inventar
O meu próprio pecado
Quero morrer
Do meu próprio veneno
Quero perder de vez
Tua cabeça
Minha cabeça
Perder teu juízo
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Chico Buarque)

Um comentário:

Flávia Pregnolatto disse...

è Fran, você definiu bem o que todos sentiram ao ver a entrevista com o Fabiano. Eu também não tive como conter as lágrimas, é muito triste! é muito revoltante!