15 de abr. de 2009

No fim do arco-íris...


Incrível! Sonhei com o pote de ouro no final do arco-íris por tanto tempo... como eu quis chegar ao final dele. Mas era tão dura a caminhada, cheia de altos e baixos, e eu nunca chegava...

Perdi-me no caminho, encontrei atalhos que me levaram a pores-do-sol fantásticos, a paisagens outstanding, sem pote de ouro, sem nada palpável, só a plenitude... estar plenamente feliz...

Continuei a trilhar o caminho, sem levar a nada, só carregando na mochila a esperança de encontrar outro atalho...

Nessa caminhada, esqueci-me da estrada de tijolos dourados, esqueci-me do pote de ouro, esqueci-me até do arco-íris. E eis que, sem pensar em nada, topei com ele... todo lá, inteiro, com todas as cores, com todas as moedas douradas... meu, do jeito que eu sempre desejei. Todo meu, entregue.

Mas cadê a plenitude? Cadê o gosto da felicidade plena? Incrivelmente, aquilo não me causou sensações, borboletas...

O pote era o mesmo. A mesma casca, o mesmo conteúdo, sempre instigante e encantador... mas não... realmente não me causava a plenitude.

O pote poderia ser meu, eu poderia possuí-lo ali, prendê-lo para sempre. Mas foram os atalhos que me encantaram, mesmo não os possuindo. O pote de ouro ficou banal demais depois que passei pelo atalho... e senti.

Eu passaria a vida esperando pelo atalho, mesmo não podendo possuí-lo. Dane-se o pote de ouro! Eu quero mesmo é a plenitude!!!

Já dizia Luís Fernando Veríssimo... “Quando você acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”.
Que bom!!!
Pena que os atalhos são tão raros... mas se pude chegar ao inesperado pote de ouro, por que não posso morar, quem sabe, um dia qualquer, numa tarde vazia, ou manhã, num atalho?

“(...)
Lembro como se fosse ontem, mas aconteceu há exatos vinte anos. Eu estava sozinha – não havia um rosto conhecido a menos de um oceano de distância – sentada na beira de um lago. Fiquei um tempão olhando pra água, num recanto especialmente bonito. Foi então que me bateu uma felicidade sem razão e sem tamanho. Deve ser o que chamam de plenitude. Não havia acontecido nada, eu apenas havia atingido uma conexão absoluta comigo mesma. Não há como contar isso sem ser piegas. Aliás, não há como contar, ponto. Não foi algo pensado, teorizado, arquitetado: foi apenas um sentimento, essa coisa tão rara.
De lá pra cá, nem hino nacional, nem gol, nem parabéns a você me tocam de fato. Isso são alegrias encomendadas e, mesmo quando bem-vindas, ainda assim são apenas alegrias, que é diferente de comoção. O que me cala profundamente é perceber uma verdade que escapou dos lábios de alguém, um gesto que era pra ser invisível mas eu vi, um olhar que disse tudo, uma demonstração sincera de amizade, um cenário esplendoroso, um silêncio que se basta. E também sensações íntimas e indivisíveis: você conquistou, você conseguiu, você superou. Quem, além de você, vai alcançar a dimensão das suas pequenas vitórias particulares?
Eu disse pequenas? Me corrijo. Contemplar um lago, rever um amigo, rezar para seu próprio deus, ver um filho crescer, perdoar a si mesmo: tudo isso é gigantesco pra quem ainda sabe sentir.”

Martha Medeiros, extraído da crônica Emoção X Adrenalina, do livro Doidas e Santas.

Nenhum comentário: